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Rotina de fantasiados no trabalho vai de beijinhos a pontapés

Papai noel não está só entre os que ganham a vida suando a fantasia. Pastel ambulante, Monga -a mulher-gorila, vampiro e bruxa foram alguns dos personagens que encontramos com um discurso semelhante: trabalhar fantasiado tem dificuldades bem peculiares, mas é gratificante .


Quem costuma andar pela Avenida Paulista está acostumado a encontrar um Pastel em tamanho gigante, brincando com as pessoas. Dentro do Big Pastel está Bruno Couto Candeo, de 25 anos. Ele extrapola sua função de entregar panfleto para promover uma pastelaria: sai correndo pela avenida, deita na saída de ar do Metrô para inflar sua fantasia, faz os carros pararem para os pedestres atravessarem e até ouve desabafos. “Eles contam coisas da vida pessoal, perguntam como eu estou, se sentem amigos do Pastel”, relata.




big pastel

Nem tudo é alegria. Bruno conta que algumas pessoas zombam da roupa que ele usa e até dão socos nele. Além disso, ouve broncas de policiais por subir nas árvores e demais travessuras. “A parte ruim também é o calor, porque eu trabalho na hora do almoço, das 11h às 14h, e em plena Paulista. Você sua, ouve xingamentos das pessoas...”, comenta.

Mas Bruno afirma que gosta do que faz porque trabalha improvisando e fazendo brincadeiras o tempo todo. E diz que ainda faz sucesso com as meninas. “A abordagem é sempre por causa da fantasia, depois a gente troca telefone, e-mail, aí dá pra conhecer melhor a pessoa”, diz. Mas nenhuma abordagem virou relacionamento sério. “Só ficadinhas rápidas, uns beijinhos”, garante. “Eu procuro não misturar a vida profissional do Big Pastel com a vida pessoal.”

Bruno deixou a faculdade de administração porque não tinha condições de pagá-la e decidiu entrar no ramo de promoções e eventos. Ele trabalha oito horas por dia, como autônomo. Além de Big Pastel, faz personagens em festas infantis e particulares, em restaurantes e eventos corporativos. E diz que não pretende largar esse trabalho.


Fernanda de Souza

36 vezes Monga todo dia

Há sete meses, Fernanda de Souza, de 21 anos, é a Monga no Playcenter, em São Paulo. Quem vê seu jeito tímido não imagina que ela seja capaz de arrancar gritos de horror da plateia quando se transforma em mulher-gorila e corre em direção aos espectadores. Seu primeiro papel foi como a menina do "Exorcista" no Castelo dos Horrores, no mesmo parque. “Vou querer sempre trabalhar fantasiada porque isso mexe com as pessoas”, diz.

No show, a cientista Julia Pastrana se transforma na Monga após ser contaminada em uma tribo de índios. Fernanda faz 36 aparições por dia para cerca de 2 mil pessoas. No total, são 8 mil por semana. Ela diz que gosta de interpretar a Monga, apesar de a personagem causar medo.
 
Barba e 'magia' o ano todo

José Caruso, 69 anos, conta que nunca pensou em ser papai noel, até que uma mulher o convidou para participar como o 'bom velhinho' em cima de um carro alegórico. “Eu era um mero vendedor de armação de óculos, mas aceitei o convite e deixei crescer a barba”, diz. Há sete anos como papai noel, seis deles no Shopping Eldorado, em São Paulo, ele diz que conserva a barba o ano todo. “Pra ser papai noel há uma magia, não sei de onde vem, mas colou em mim”, diz.


Papai noel José Caruso

Mesmo passando calor com a roupa vermelha de cetim, ele aguarda com ansiedade os meses de novembro e dezembro para poder receber as crianças durante seis horas por dia.

De janeiro a outubro, ele vive numa casa no campo em São Carlos do Pinhal, interior de SP. Na cidade, as crianças o chamam de papai noel o ano todo. “Querem passar a mão na minha barba, tiram foto comigo, tem que estar sempre sorrindo. O ano inteiro eu sou papai noel”, comenta. Entre a noite do dia 24 e a madrugada do dia 25, é contratado por famílias de São Paulo para entregar presentes nas residências. Ele visita em média seis casas. Caruso diz que seu último trabalho será como noel. “O dia em que eu não vier aqui [no shopping] é porque passei pra outro”.
 
Seis horas por dia em pé

No shopping, Caruso tem a companhia, entre outros, de Aline Correia, 22 anos, que está se formando em publicidade e pela primeira vez trabalha como Noelete. Para ela, a experiência de dar atenção às crianças ao lado do papai noel está sendo gratificante. “Tem pai que vem tirar foto com a gente, as crianças também se encantam, nos chamam de mamãe noel, princesa”, conta.

Mas tem que saber lidar com gracinhas dos adultos. "Às vezes finjo que não ouço, viro as costas, mas tem que estar sempre sorrindo, não pode ser grosseira, tem que disfarçar que não ouviu de uma maneira sutil.” A estudante diz que aceitou o emprego para ter experiência. Ela receberá R$ 1,2 mil pelo período de trabalho de 7 de novembro a 24 de dezembro. São seis horas por dia em pé, com 40 minutos de intervalo para lanche. No ano que vem pretende aproveitar a experiência adquirida para conseguir uma remuneração maior como Noelete.
 
Puxões na calça e psicologia

Os atores Nano Freittas, 36 anos, Zu Aguiar, 37 anos, e Elizete de Souza, 44 anos, trabalham juntos há quatro anos na época do Natal, sempre fantasiados de personagens para brincar com a criançada. Neste ano, eles são contadores de histórias de um shopping. Eles recebem um roteiro, mas podem improvisar. “Aqui é um palco aberto, quando você se maqueia e coloca o figurino você parte para o personagem e esquece o resto”, diz Zu.